Transtorno de Personalidade Borderline

Profissional responsável: Camila Travanse – CRP 06/83734

São 10 classificações de transtornos da personalidade que constam no DSM-V. Neste texto, será abordado o Transtorno da Personalidade Borderline.

Quando falamos de um Transtorno da Personalidade, estamos nos referindo a um padrão de funcionamento mental e comportamental bastante inflexível e rígido. Esse padrão diz respeito à forma de perceber, pensar, reagir e interagir com o mundo, e se desvia do modo esperado pelas pessoas em geral, em termos culturais e sociais, resultando em sofrimento e prejuízo significativo no funcionamento da vida do indivíduo. 

O que é o Transtorno da Personalidade Borderline (TPB)?

É um padrão de personalidade caracterizado, principalmente, pela baixa tolerância às frustrações, pela impulsividade, pela instabilidade nas relações interpessoais e afetivas e por uma percepção negativa de si. É um transtorno que se manifesta no início da vida adulta e que pode surgir em diferentes graus, inclusive com crises, com ideação suicida e/ou a própria tentativa de suicídio. 

Como é o humor de uma pessoa com TPB?

Existe uma instabilidade de humor muito grande. Desde cedo, ainda na adolescência, são observadas variações de humor repentinas, o que pode levar profissionais da saúde a, inicialmente ou erroneamente, classificarem tais sintomas como parte de um Transtorno da Personalidade Bipolar. 

Apesar de não ser o foco deste texto, vale comentar que a pessoa com Transtorno de Personalidade Bipolar apresenta uma variação de humor polarizada e com períodos específicos de duração, marcado por episódios de mania ou hipomania. Diferentemente da pessoa com Transtorno de Personalidade Borderline, que apresenta variações de humor repentinas em um mesmo dia e se altera por pequenas frustrações vivenciadas. 

É frequente ouvirmos relatos de um indivíduo com TPB estar bem e, por alguma expectativa não atendida, vivenciar um ataque de raiva e mudar radicalmente o seu humor. Apesar da raiva ser uma emoção bastante vivenciada nas variações de humor da pessoa com TPB, a ansiedade e o medo da rejeição também estão bastante presentes, assim como a sensação de vazio e apatia constantes. 

Como é o padrão de pensamento de uma pessoa com TPB?

O padrão de pensamento da pessoa com TPB é desorganizado, inconstante, muda de ideia com frequência, é dicotômico, ou seja, funciona no “8 ou 80”, ressalta o negativo de si e das situações, personaliza os fatos, atribuindo a culpa dos eventos negativos para si de maneira desproporcional, sem considerar que outras pessoas e fatores possam ter desencadeados esses eventos. 

Os pensamentos são rígidos e inflexíveis. Portanto, não adianta, simplesmente, as pessoas falarem para pensar diferente, ver a situação de outra forma, porque o indivíduo com Transtorno de Personalidade Borderline tem dificuldade em associar o que está ouvindo de novo ao que já tem definido dentro de si. 

Suas percepções e compreensões das situações são como verdades absolutas e há muita dificuldade de gerar pensamentos alternativos. 

Como é o padrão de comportamento de uma pessoa com TPB?

O padrão comportamental de pessoas diagnosticadas com esse transtorno é marcado por vários aspectos, como:

  • Grandes esforços para serem aceitos e amados; evitação, a todo custo, do abandono, que pode ser um risco real ou imaginário. A leitura feita é a de que está sendo rejeitado o tempo todo, mesmo quando isso não está acontecendo. 
  • Intensidade e instabilidade nas relações interpessoais e afetivas, idealização e desvalorização das relações, vivência de relacionamentos de “amor e ódio” em diversos contextos, inícios e términos de relacionamentos repentinos, rompimentos impulsivos, tentativas de reatar e inconformidade com términos. 
  • Mudanças repentinas e constantes em seu estilo, um vestuário variável e instável, relacionado constante comparação com os outros e com o desejo de aprovação social.
  • Ações impulsivas em situações consideravelmente autodestrutivas como, por exemplo, comprar coisas desnecessárias e de forma descontrolada, consumir bebidas alcoólicas e/ou outras substâncias, superdosagem de medicamentos, entre outras condutas que trazem exposição a riscos sem avaliação prévia das consequências. 
  • Ataques de raiva, com comportamento reativo e agressivo contra os outros, agressões verbais, podendo chegar à agressão física, quebrando objetos, ou, ainda, comportamento autodestrutivo, como automutilação, isolamento, uso excessivo do álcool e de drogas como estratégia de fuga, devido à dificuldade de aceitar e lidar com a realidade.

 

Quais os principais prejuízos que a pessoa com personalidade borderline pode enfrentar? 

Quando não diagnosticado ou devidamente tratado, o TPB pode gerar prejuízos significativos no seu funcionamento pessoal, profissional e social.  

É comum as pessoas com TPB se envolverem em relações abusivas, tóxicas e com alto nível de sofrimento, preferindo estar nesta relação para preencher o enorme e constante vazio que sentem a se verem sozinhas. 

Devido à sua percepção distorcida de si mesmos, não reconhecem suas habilidades e qualidades, se sentindo constantemente fracassados, não reconhecendo suas conquistas e se posicionando de forma insegura e volátil. 

Seus objetivos pessoais e profissionais acompanham sua instabilidade emocional, mudando suas metas ou realizando várias atividades que nada tem a ver com as que já foram definidas.

Em geral, as pessoas com TPB se demonstram muito habilidosas e inteligentes, mas, devido sua instabilidade emocional, ora estão com ótimo desempenho, ora com baixo desempenho, afetando diretamente sua performance profissional e acadêmica. 

A área afetiva acaba sendo uma grande vilã, pois, a pessoa com TPB direciona toda sua energia e expectativas nos relacionamentos, deixando de lado demais objetivos, o que também acaba gerando muitos prejuízos nas demais áreas da vida. 

 O que é importante para a sua saúde e para o seu bem estar?
  1. Identificar, reconhecer e aceitar o quanto antes este tipo de transtorno de personalidade com o suporte de profissionais da saúde, como psicólogos e psiquiatras.
  2. Compreender como é o seu funcionamento cerebral e que é possível ter uma vida saudável por meio do autoconhecimento, do fortalecimento da autoestima, da regulação das emoções, da ressignificação de crenças, e, quando necessário, das medicações para alívio dos sintomas de depressão e ansiedade.
  3. Aprender estratégias para lidar com situações de frustrações, desenvolver habilidades para resolução de problemas e para melhorar suas relações interpessoais e afetivas.

 

 A importância da Psicoterapia no tratamento do Transtorno da Personalidade Borderline

Considerando que identificar, compreender e aceitar o diagnóstico, aprender estratégias e desenvolver habilidades são essenciais para a saúde e bem estar da pessoa com TPB, o tratamento por meio da psicoterapia é o principal caminho, e, quanto mais aberta e motivada a pessoa estiver, mais efetivo será o processo. 

Diversos estudos têm mostrado que, entre as abordagens da Psicologia, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a Terapia do Esquema (TE) e Terapia Comportamental Dialética (DBT) apresentam resultados mais expressivos na melhora terapêutica, em casos do Transtorno de Personalidade Borderline. 

Em um processo de psicoterapia conduzido por meio dessas abordagens, o profissional trabalhará a psicoeducação do paciente e utilizará técnicas e treinos de habilidades, ajudando-o a entender seu funcionamento cognitivo, seus comportamentos disfuncionais, bem como a acolher e a lidar melhor com suas emoções, usando-as ao seu favor para o desenvolvimento de comportamentos mais adaptativos às situações, através de uma relação terapêutica bastante colaborativa, de mútua confiança para o alcance dos seus objetivos pessoais, profissionais e da qualidade de vida em geral. 

 

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