Neste texto, você vai conferir algumas características de pessoas com superdotação, quebrar alguns mitos e entender a importância da identificação de indivíduos com esse perfil.

Autoria: Meylane Belchior de Sá Menezes (meylanebelchior@hotmail.com)

Nem tudo é o que parece

Duvido um pouco que você, leitor, não tenha questionado a sua própria capacidade em algum momento da vida. Em meio aos problemas que costumam surgir quando estamos buscando alcançar uma meta, algumas vezes, pode ser desafiador avaliar o nosso próprio potencial. 

A depender das expectativas que temos acerca do nosso desempenho, esse desafio pode se tornar ainda maior. Seguir em frente após incontáveis fracassos nem sempre é uma tarefa fácil. Quem sabe, tudo seria menos complicado se tivéssemos nascido superdotados, não é mesmo?

Na realidade, não! E, se você sair deste texto começando a entender o porquê da minha resposta, eu já estarei satisfeita. Quem sabe, assim, você será mais compreensivo com você mesmo e poderá encontrar um potencial de crescimento a partir das suas próprias limitações. 

 

Afinal, o que é superdotação?

Um padrão de notas extremamente elevadas. Habilidades raras em instrumentos musicais. Capacidade de falar fluentemente em diversas línguas. Leitura e escrita avançadas. Seria uma dessas características? Talvez uma combinação delas?
Sem mais delongas: as altas habilidades/superdotação (AH/SD) podem se expressar em qualquer uma dessas características, mas não necessariamente é o que acontecerá. De início, devemos entender que há diversos tipos de AH/SD. No entanto, há aspectos em comum entre eles.

De acordo com o modelo proposto pelo teórico Joseph Renzulli, essas pessoas seriam as que possuiriam, ao mesmo tempo: 

Capacidade acima da média em alguma área;

→ Elevada criatividade;

→ Um alto engajamento com a atividade em que está envolvido.

 

E quais seriam os tipos de altas habilidades?

Como dito, essas características podem se expressar em diferentes áreas do conhecimento. O Ministério da Educação (MEC) considera 6 tipos de superdotação

  • Intelectual: pensamento rápido e fluido, compreensão elevada das situações (até mesmo as que exigem um maior nível de pensamento abstrato), alta capacidade de resolução de problemas e contam com uma ótima memória;
  • Social: destaque na liderança, com alto poder de cooperação e de influência no grupo, inteligência interpessoal e capacidade acima da média em lidar com diferentes pessoas;
  • Psicomotor: destaque em atividades que envolvem força, coordenação motora, velocidade, controle e resistência;
  • Criativo: poder imaginativo elevado, apresentando alternativas muito criativas para diferentes situações, ou seja, reflete em originalidade e inovação fora do comum;
  • Talento especial: capacidade acima da média em uma ou mais das seguintes áreas – artes plásticas, musicais, cênicas ou literárias.

Nem todas as características citadas precisam aparecer para que o indivíduo seja identificado em determinado tipo de AH/SD, bem como ele pode estar em mais de uma dessas seis categorias, como cita o documento “Saberes e práticas da inclusão: desenvolvendo competências para o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos com altas habilidades/superdotação” (2006), do MEC, de onde foram retiradas as definições dadas acima.

 

O que fazer se eu desconfiar que possuo superdotação?

É muito indicado que, em casos suspeitos, procure-se por um profissional da saúde, como um neuropsicólogo ou um psicólogo com domínio do tema e de avaliação psicológica. A importância da identificação pode ser percebida, por exemplo, diante do fato de que essas pessoas são Portadoras de Necessidades Educacionais Especiais (PNEE) e, por isso, possuem direito à Educação Especial

Apesar de possuírem esse direito previsto pela legislação brasileira, ainda há muito desconhecimento acerca dessa temática, inclusive nas escolas do país, dificultando a identificação dessas pessoas e, como consequência, o acesso à Educação Especial. Esse déficit na identificação, por sua vez, reflete – somado a outros fatores – em prejuízos para a nação, para a família e para o indivíduo. 

 

Viver no Brasil sendo uma pessoa com altas habilidades

Muito se fala que “quem se esforça, chega lá”. Claro, existiram os que, mesmo em contextos socialmente precários, alcançaram um patamar de prestígio na sociedade. No entanto, discursos como esse desconsideram uma série de variáveis que impactam, até, no quociente de inteligência (QI) do sujeito – além de em inúmeros desfechos mais amplos, inclusive na satisfação com a vida. Algumas dessas variáveis são, por exemplo, o acesso a uma educação de qualidade e, até, à nutrição

Somado ao baixo conhecimento geral sobre AH/SD no contexto brasileiro, até entre profissionais da saúde e da educação, esse fato faz com que tenhamos incontáveis indivíduos com esse perfil que estão “perdidos”, sem possuir noção dos seus direitos e sem explorar as suas potencialidades tanto quanto possível.

Nesse contexto, fica claro, também, o quanto, enquanto nação, perdemos possibilidades de avanço em diversas áreas. Não podemos esquecer, além disso, de que as precárias oportunidades não apenas afetam indivíduos com essas características, mas a população como um todo, que é impactada, diariamente, por uma desigualdade social alarmante. 

 

Como fica a família nesse contexto?

Conversando com diversos pais de pessoas com altas habilidades, pude perceber como muitos tiveram uma grande mudança na relação com os filhos e/ou na forma como os direcionavam após entender particularidades da superdotação.

Muitos deles entenderam a importância de lutar pelos direitos dos filhos, como os previstos na Educação Especial. Além de que, entendendo mais o funcionamento deles, passaram a buscar por espaços em que eles fossem mais assistidos

A compreensão dos pais sobre os modelos que pessoas superdotadas costumam possuir pode contribuir para que esses indivíduos se sintam mais acolhidos e tenham as suas necessidades básicas mais supridas

 

A identificação das AH/SD pode surtir efeitos na vida do indivíduo

Talvez, até este momento, ainda não tenha ficado claro, para muitas pessoas, que indivíduos com essas características costumam enfrentar desafios particulares. Vê-se, então, a necessidade de introduzir o assunto.  

Pessoas com esse perfil podem ter um perfeccionismo muito prejudicial à própria saúde mental, buscando alcançar resultados extremamente elevados e se esquivando, ao máximo, do que seria considerado um fracasso. Nesse sentido, é comum que a tolerância à frustração costuma seja baixa, já que esses sujeitos são muito autocríticos, o que costuma gerar ansiedade

Além disso, muitos podem sofrer na infância por viverem em um meio que espera que eles sejam “pequenos adultos”, dado que, por possuírem um alto potencial, algumas pessoas ao redor podem agir como se eles também fossem avançados em se tratando de questões emocionais – o que não é necessariamente uma realidade. 

É indispensável, também, considerar o sofrimento que muitas pessoas com esse perfil podem possuir em contextos escolares por não terem as suas necessidades atendidas e, muitas vezes, não serem aceitas em suas particularidades pelos colegas de classe. 

A identificação da superdotação pode fazer com que, então, esses sujeitos passem a aprender mais recursos para lidar com os seus padrões comportamentais, o que, possivelmente, favoreceria não só um avanço cognitivo, como também um maior bem-estar

Então volto a te perguntar…

 

Tudo realmente seria menos complicado se tivéssemos nascido superdotados?

Não há garantia alguma disso! Ser superdotado não é sinônimo de possuir problemas a mais ou a menos. Significa uma diferente forma de ser, com suas vantagens e desafios, que são particulares para cada um. 

Mas o ponto é: assim como os superdotados possuem necessidades que, quando são atendidas, aumentam a chance de um avanço cognitivo e na satisfação com a vida, o mesmo acontece com pessoas fora desse grupo. 

Entender as nossas próprias demandas e limitações é um processo muito valioso para a conquista das nossas metas. 

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