O que é Pânico?

Você sabe quais são os mecanismos, as manifestações e as definições do ataque de pânico? Também apresenta as maneiras de lidar com essa forma de ansiedade e as propostas de tratamento.

De que maneira a ansiedade poderia ser uma vantagem ao ser humano? A resposta para essa pergunta é exatamente o motivo para as reações desagradáveis que algumas pessoas apresentam. Durante um ataque de pânico, uma série de mudanças acontecem no corpo e na mente com o objetivo inicial de proteger um indivíduo de uma ameaça.

O ataque de pânico, por definição, é um medo intenso que se inicia rapidamente e que dura poucos minutos, nos quais uma pessoa pode apresentar dificuldade para respirar, tremores, dor no peito, suor e sensação de frio, aumento da frequência dos batimentos do coração, formigamento das mãos e lábios, sensação de desmaio e desconforto na barriga. Muitas vezes, o indivíduo pode acreditar que está prestes a morrer ou que está enlouquecendo, especialmente quando acontece uma reação de estranhamento de si mesmo ou do o ambiente.

Felizmente, tal reação tende a durar poucos minutos e não é capaz de machucar o organismo. De qualquer forma, sua intensidade e manifestação pode ser perturbadora, podendo evoluir para um transtorno mental, em que a pessoa teme nova crise e que o processo se repita.

Ainda que não traga maiores problemas ao corpo, as pessoas com esse tipo de sofrimento geralmente têm os primeiros contatos com serviços de saúde pelo medo de estar com algum adoecimento grave e fatal, com demanda de investigação sobre doenças do coração e pulmão. E, quase sempre, recebem confirmações de que está saudável ou que alguma eventual doença não poderia justificar seus sintomas. 

Isso porque o pânico é uma reação esperada para um mecanismo de defesa que o ser humano tem desde o nascimento, assim como vários outros animais. Trata-se de uma forma de ansiedade desencadeada para o enfrentamento de uma ameaça imediata, com objetivo de permitir meios de fugir ou de lutar.

A proposta é que o indivíduo, inicialmente em estado calmo e tranquilo, se torne mais atento e aumente a produção de energia, estando preparado para reagir com rapidez. Para que aconteça, o hormônio adrenalina é liberado em grandes quantidades diretamente na corrente sanguínea e atinge várias partes do corpo. Não muito diferente do que seria necessário para proteger nossos ancestrais, no tempo das cavernas, ao se depararem com um lobo na noite escura.

Entre as mudanças no corpo está a mudança na distribuição do sangue, sendo redirecionado de órgãos não prioritários para o desempenho na batalha, como estômago e intestinos, para aqueles mais necessários, como músculos, coração e cérebro. O sangue também é drenado da pele, para evitar grandes perdas em caso de ferimentos. Não à toa, alguns dos sintomas são a sensação de frio nas mãos e na barriga, além do empalidecimento. 

O sangue disponível vai levar glicose e oxigênio para produção de energia nos músculos, tornando-os mais rápidos e mais fortes, especialmente nos braços e pernas. Porém, como potência sem precisão não é nada, o metabolismo no cérebro também aumenta, permitindo o planejamento das estratégias para sobrevivência, trazendo um turbilhão de ideias em pouco tempo, analisando diversas variáveis em si e no ambiente, demandando também a mudança do campo visual (por isso os olhos se arregalam e a pupila se dilata).

Para que o sangue chegue ao seu destino mais rapidamente, o coração passa a bater cada vez mais rápido e com contrações vigorosas. A respiração também se acelera para distribuir maior quantidade de oxigênio. Com isso, o ar passa a ser exalado mais rapidamente, levando a mudanças na química interna, especialmente eliminando o gás carbônico, modificando a acidez sanguínea e levando a sensação de formigamento nos dedos e nos lábios. 

Nesse estado de transformação, a força e agilidade disponíveis permitem o enfrentamento do perigo e, espera-se, que dure o menor tempo possível; caso contrário, levaria a um estado de fadiga intolerável. Aos poucos, o organismo retorna ao seu estado anterior e finaliza-se toda a transformação.

Pois bem, ao avaliar os motivos e os mecanismos dessa mudança, fica nítida a necessidade dessa habilidade adquirida ao longo da evolução da espécie. Então, de que forma passa a ser um problema? A resposta está na mudança na avaliação do perigo, sendo o inimigo não mais um lobo, mas os medos aprendidos ao longo da vida.

Numa possível primeira reação por um temor justificável, como ser demitido ou romper um relacionamento, o mecanismo ansioso atinge níveis que são considerados incontroláveis. Dessa maneira, a pessoa poderia se perguntar “o que há de errado comigo?”.

Em seguida, após essa primeira experiência com uma emoção intensa, alguns indivíduos passam a acreditar que não seriam capazes de tolerar mais um episódio semelhante. Dessa forma, a mente deixa de procurar ameaças no ambiente e passa a monitorar as reações do próprio corpo, temendo qualquer palpitação ou a possibilidade de ser asfixiado.

Assim, se instala um transtorno em que a principal característica é o medo de ter ansiedade. Estando sempre em alerta, torna-se provável que toda cascata seja deflagrada mais uma vez, cada vez mais rápida e intensamente, mesmo na ausência de qualquer perigo concreto.

Com a mente tumultuada com ideias durante a crise, é improvável que alguém consiga se convencer de que “está tudo bem”. Também é improvável que alguém consiga fazer o coração deixar de cumprir seu papel ou impedir que a adrenalina seja distribuída pelo sangue. Ou seja, o foco de qualquer intervenção está exatamente quando não acontece um ataque de pânico, que é quando deve-se procurar o tratamento.

São diversas as opções de tratamento, seja medicamentoso ou não. Algumas das estratégias iniciais envolvem a realização de atividade física, com dois objetivos, que são utilizar antecipadamente a adrenalina já disponível no corpo e expor a pessoa às mesmas reações de uma crise de ansiedade (durante o exercício físico, o coração também acelera, a respiração é mais rápida e os músculos estão mais fortes).

As abordagens psicoterápicas propõem diversas formas de lidar com o problema. Uma delas é treinar um estado de tranquilidade e relaxamento no corpo e na mente, com a realização de atividades prazerosas, com o descanso adequado e a desaceleração das rotinas. Músicas instrumentais e exercícios de alongamento podem ser estratégias adicionais nessa prática.

Outra vertente é promover a tolerância à experiência emocional, em que o treinamento proporciona a contemplação das reações que acontecem durante a ansiedade, notando detalhes como locais e ritmos em que ela acontece. Uma das maneiras de alcançar esse objetivo é com a realização de atividades meditativas, em que o foco não é o relaxamento, mas sim a atenção ao momento. Por se tratar de uma técnica, o ideal é que esteja em constante treinamento, para que se torne uma habilidade disponível diante de dificuldades.

Por fim, as estratégias cognitivo-comportamentais têm como alvo a desconstrução das ideias distorcidas sobre os ataques de pânico e a exposição ao evento desagradável. Novamente, sendo uma técnica, necessita de ser treinada. Uma das primeiras abordagens dessa modalidade é a mensuração do risco real diante de uma situação ameaçadora, buscando reduzir a probabilidade de desencadear uma crise de pânico. Além disso, deve questionar quantas vezes a crise tem que acontecer até a pessoa perceber que ela vai cessar após um tempo determinado, independente do que ela fizer? Pode-se perguntar, também, o que pior poderia acontecer nessa situação? Diante disso, eu conseguiria lidar com esse problema da forma como acontece?

É sabido que não é fácil ter a si mesmo como ameaça ou imaginar-se como próprio inimigo. Entretanto, ao vislumbrar as formas e justificativas de existir um mecanismo elaborado para lidar com problemas no ambiente, é mais fácil entender a forma como reagimos e quais são os limites alcançados. 

 

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