Faz algum tempo que tenho observado uma crescente descrença das pessoas com o mundo que as cerca. Já falei aqui mesmo no blog sobre a lei de Gerson, em que o que vale é ser esperto. No nosso país, hoje, é fato que muitas pessoas que se sobressaem utilizam esta dinâmica da esperteza como

mola impulsionadora ou até mesmo como modelo de sucesso e status. Uma pena! Pois, quem tem resultado não é necessariamente um vencedor. Afinal, qual é a vantagem de ser uma farsa ambulante para o resto da vida? Encontramos exemplos desse comportamento nos atletas bombados que se drogam para obter melhores resultados, nos políticos que corrompem ou são corrompidos olhando somente para o próprio umbigo, nos estudantes que compram teses e monografias a fim de obter títulos de uma forma mais fácil e por aí vai…. O fato é que o nosso comportamento é o efeito dos nossos pensamentos que são comandados pelas nossas crenças internas construídas ao longo da vida. Portanto, para que alguém se comporte de forma tão dissimulada, é porque tem algum pensamento permissivo nocivo e distorcido por trás. Mas o que são pensamentos de permissão? Pensamentos de permissão são aqueles que nos dão a permissão de fazer algo que vai contra nossas metas e valores. São os pensamentos dos gordinhos: amanhã começo a dieta, hoje posso comer esse doce maravilhoso, afinal tive um dia tão estressante que eu mereço! São os pensamentos de alguns parlamentares: Se todo mundo rouba, então, eu também posso, senão, serei considerado bobo. É muito triste perceber que essa dinâmica feita por um acaba por contaminar vários numa velocidade exponencial, pois, se o outro faz, eu também posso, ou eu também devo para não ficar para trás. A nossa sociedade tem entrado numa competição em que o valor está em ser o mais esperto, pois eu sou aquilo que aparento ser e aparentando os outros irão me respeitar. Ser bom está démodé, mas convém avaliar se os ganhos compensam os danos. Digo danos porque não acredito que alguém consiga dormir tranquilo sabendo do mal que pode ter gerado a alguém, mas, mesmo que consiga, o corpo vai reclamar e as doenças vão emergir. Isso não significa que toda pessoa que adoece fez algum mal a alguém, mas as doenças geralmente surgem a partir de um sofrimento, seja ele consciente ou não, e se rompemos ou entramos em crise com nossas regras e valores, provavelmente, sentiremos na pele as consequências disso.

O pior disso tudo não é a contaminação das más atitudes, mas o descrédito no ser humano. As pessoas andam tão desconfiadas que pensam que qualquer atitude é ameaçadora, não acreditam nos bons e nas lideranças genuínas. Existe sempre a ideia que se alguém me faz um bem é porque quer algo em troca ou está ganhando com isso. Ser bom, transparente e verdadeiro assusta e gera desconfianças e por isso tem se tornado tarefa árdua nos dias de hoje, mas mesmo assim ainda penso que ainda é mais vantajoso do que ser esperto. O que todo esperto quer é ser o melhor, mas isso ele nunca vai ser. Ele apenas terá a sensação da vitória, mas nunca será o vitorioso realmente, pois se verá como uma farsa constante e viverá em constante sofrimento gerado pelo medo de ser descoberto, que acabará por criar uma necessidade eterna de preencher seus vazios com as suas distorções em vão, criando um círculo vicioso. Por outro lado, ser bom nos fornece uma sensação inexplicável de apoderamento e plenitude jamais experienciada pelos espertos. Essa sensação compensa todas as dificuldades impostas pela nossa sociedade distorcida e incrédula que duvida dos bons, como uma forma de se justificar pelo bem que não consegue ou não tenta fazer. Ainda bem!