Como lidamos com uma ameaça invisível? Iremos acreditar apenas no que está diante dos nossos olhos?
Em um cenário global, vivemos uma crise psicoemocional e socioeconômica causada por um vírus que traz uma ironia de diversas maneiras. Tendo uma estrutura minúscula e invisível, mas com um poder gigante de afetar a saúde da população. Sendo um momento em que mais necessitamos de apoio e solidariedade entre as comunidades, mas que ao mesmo tempo somos aconselhados a mantermos em isolamento social.
Mas então. Como reagimos a uma ameaça invisível? Qual é a diferença existencial desta ameaça para uma ameaça visível, como exemplo uma guerra, onde estaríamos visivelmente nos deparando com violência, bombas, armas, etc. Como seriam as nossas atitudes diante desse cenário visível?
Hoje, após aproximadamente 1 mês desde que o COVID-19 chegou ao Brasil, conseguimos identificar dois polos extremos que retratam o padrão de comportamento de nós indivíduos.
Por um lado temos aquele que veste a camisa do medo e da insegurança de uma maneira obsessiva, gerando uma consequência disfuncional para a adaptação a esse momento. Atitudes de desconfiança a cada passo dado. Lava as mãos, passa álcool em gel, toca, por exemplo em uma maçaneta e já vem o pensamento: “e se nesse momento contrai o vírus?”. E logo entra em um ciclo vicioso de hábitos neuróticos. Se paralisando em fazer outras atividades por medo de ser infectado.
E no polo oposto vemos aquele indivíduo dessensibilizado com a situação atual. Usando várias estratégias para minimizar o poder e as consequências desse vírus. Tendo pensamento como: “ah, não tem tanto risco assim eu sair para x lugar”, não mudando seus hábitos voluntariamente. De uma forma que se coloca em perigo diante de um risco real.
Observei que após 2 semanas da chegada desse vírus, o número de movimentação e pessoas nas ruas é muito maior. Atualmente, você se identifica em qual polo?
Obviamente existem já algumas pessoas colocando em prática o equilíbrio entre eles. Tomando as devidas precauções, adaptando sua rotina e não se paralisando diante do cenário. Mas hoje focaremos nesses dois extremos e refletiremos como nossas percepções e pensamentos afetam como vamos nos comportar diante das situações.
Primeiramente eu vou lançar um questionamento: o que é visível? No dicionário afirma que é algo “passível de ser visto; perceptível pela vista.” “que efetivamente se vê; aparente, exposto à vista.”
Será que o que e como enxergamos é igual para todos?
Vamos pensar em uma tela de computador onde pedirei que desenhem uma cidade. Será que o resultado dessa imagem sairá igual? Nós sabemos que em uma cidade possuem casas, prédios, carros, ônibus, rua, árvores, parques, etc. Mas como iremos formatar essa imagem da cidade será baseado em suas experiências e percepções. E dentro da terapia cognitivo-comportamental é o que chamamos de esquemas, são crenças estabelecidas diante de experiências positivas/negativas que você vivenciou até hoje.
É como se cada uma usasse um óculos de uma cor diferente, e essa cor é referente a tudo que você viu e como você vivenciou essas situaçoes. Logo a maneira que enxergamos o mundo é particular e subjetivo. Mas para enxergar precisamos necessariamente de uma figura/estrutura frente aos nossos olhos?
Nessa situação do coronavírus. Como faremos então, já que o vírus em si não somos capazes de ver?
É um momento novo, um cenário nunca vivido antes pela maioria da população. Então é inevitável que teremos muito pensamentos automáticos que nos trarão emoções atrás de emoções. Emoções como medo, ansiedade, raiva e tristeza se farão presentes sentimentos de insegurança, angústia e desânimo também virão acompanhados. E está tudo bem sentir esse mix de emoções. Mas cabe a cada um ser responsável pela maneira que iremos nos comportar diante delas. Só por que pensamos e sentimos é a verdade?
É por isso que temos as evidências e fatos.
Para quem não conhece a abordagem cognitivo-comportamental, para desafiarmos aqueles pensamentos que estão nos atrapalhando a alcançar o nosso objetivo, baseamos em fatos. Os fatos mostrarão consistência se o pensamento é real ou não.
Estamos enfrentando um momento em que recebemos chuvas de informações, mas pelo menos temos acesso a elas não é mesmo? Então como usá-las ao nosso favor?
São elas que nos ajudarão a possibilitar a construção de estratégicas para alcançarmos o equilíbrio e o bem-estar, mesmo diante do medo e de emoções desconfortáveis.
E é muito desconfortável estarmos diante de uma guerra invisível não é? É desconfortável nos sentirmos vulneráveis e dependentes não é?
Tudo bem nos sentirmos desconfortáveis. Tudo bem estarmos vulneráveis. Esse é o ponto. O ponto é sabermos ter clareza do que estamos passando, vivendo, pensando e sentindo.
Muitas vezes em situações desconfortáveis escolhemos não enfrentar, não ENXERGAR o que de fato está acontecendo. Por que acreditamos que será muito doloroso e sofrido se vivermos emocionalmente essa situação. Então escolhemos esquivar, fugir de maneiras diferentes. Ou minimizando ou maximizando.
Mas o que podemos descobrir é que nossas experiências dolorosas NÃO são uma desvantagem. São um presente. Elas nos dão sentido, oportunidade de encontrar o nosso propósito especial e nossa força.
Por Daiana Zanandrais | CRP 04/54573
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