Os Estilos Parentais
Autoria: Jaqueline Maia – CRP 04/48086
Os quatro estilos parentais
Muitos estudos tentam compreender a influência dos pais no desenvolvimento emocional e cognitivo de seus filhos. Dos estudos com a psicóloga Baumrind (1966) – avaliando comportamentos parentais como afeto ou ausência dele, nível de expectativa e clareza, bem como consistência e regras – aos estudos de MacCoby (1980) e Martin (1983), que propõem a definição das formas de cuidado parental a partir de dois eixos: demanda (exigência – limites) e responsividade (apoio – afeto), emergiu a categorização de quatro estilos parentais: autoritário, permissivo, negligente e autoritátivos.
Pais autoritários
Pais autoritários exigem obediência às regras, oferecem um ambiente menos acolhedor, comunicação limitada, pouca escuta e, consequentemente, criam filhos com dificuldade em desenvolver uma visão mais crítica do mundo, pois são pais com altas expectativas e dos quais se espera um possível castigo físico.
Pais permissivos
Pais permissivos impõem poucas regras, evitam confrontos e punições, mostram tolerância extrema, pouca definição de hierarquia, mas promovem um ambiente que tende a ser mais amigável, acolhedor, onde há abertura à comunicação.
Pais negligentes
Pais negligentes têm poucas ou nenhuma regra, são física ou emocionalmente ausentes, desinteressados e têm baixas expectativas. Um ambiente caraterizado pelo abandono e falta de comunicação. Este é, potencialmente, o estilo mais prejudicial para o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças. Eles geralmente não chegam ao processo de orientação parental porque não se importam.
Pais autoritativos
Pais autoritativos expressam sua autoridade de forma participativa e não opressora, criam um ambiente democrático, acolhedor e amoroso onde a comunicação e a escuta são valorizadas, pais com altas expetativas e regras da casa esclarecedoras. Este, por sua vez, é o estilo parental que apresenta maior potencial em termos de fatores protetores para o desenvolvimento infantil.
Práticas educacionais
Em contraste com os estilos parentais, existem as práticas educacionais, que são estratégias utilizadas pelos pais para orientar o comportamento de seus filhos. Em sua maioria, os estudos reforçam a importância de uma educação afetiva, calorosa, porém com limites bem estabelecidos, o que reforça a nossa escolha na proposta educativa da Disciplina Positiva. O método de criação tradicional é focado em uma disciplina rígida, punitiva, com violência verbal, corporal e recompensa. Resolve o problema rapidamente, mas não prepara a criança para se responsabilizar e aprender a fazer escolhas mais saudáveis.
Pensando nas relações entre pais e filhos das gerações passadas, vemos essas relações baseadas no medo, com afastamento emocional, rebeldia, baixa autoestima e sentimento de inadequação, que tinham como consequência adultos pouco preparados emocionalmente, desconectados de seus sentimentos.
Essas especificidades relacionais eram frequentes, exatamente porque a lógica da punição gera um sentimento de inadequação ou de rebeldia. A punição não ensina, condiciona. Entendendo isso, quando punimos, a criança se desfoca da reflexão sobre aquele comportamento inadequado e foca na raiva pelos pais. A motivação para o bom comportamento vem de fora. E, com o tempo, a recompensa vai perdendo o efeito e precisa ir aumentando. Algumas reflexões importantes precisam ser introduzidas para os pais que pensam: “na minha época, era assim e eu sobrevivi”.
Reflexões
A comunidade científica vem estudando a relação entre violência física (“surras”) e problemas de saúde mental na vida adulta, e os trabalhos ajudaram a embasar a decisão de 53 países de proibir o castigo físico, incluindo o Brasil.
Uma pesquisa de 2016, publicado no Journal of Family Psychology, analisou dados de 160 mil participantes ao longo de 50 anos e concluiu que as surras não apenas não levam ao bom comportamento, como estão relacionadas a uma ampla gama de indicadores negativos, incluindo, mais uma vez, prejuízos à saúde mental.
Os pais querem que seus filhos sejam educados, saudáveis e felizes, mas os métodos de educação incluem punição, crítica, ameaça e humilhação. E muitos ainda não percebem essa incoerência.
As evidências científicas e as experiências com as famílias acompanhadas por orientação parental mostram que a forma tradicional de educar já está ultrapassada. E, nesse contexto, é necessário, desde a infância, desenvolver habilidades, como saber reconhecer e nomear os próprios sentimentos e emoções.
Aprender a manejá-los de maneira funcional tem sido um grande diferencial para uma existência com mais sentido (SANTOS, 2019). A proposta de educação gentil é baseada no reconhecimento da criança enquanto sujeito de direitos, incluindo o direito à dignidade e ao respeito, o que parece óbvio, mas ainda não é para a maioria das famílias. Isso porque, enquanto a lógica da obediência vigorar, sempre teremos uma relação de hierarquia e desigualdade, baseada no poder e no controle, na qual os cuidadores se apresentam como superiores ante a criança, para a qual só resta o papel da submissão.
Em contrapartida, se reconhecemos a criança como igualmente digna, a busca da cooperação se torna mais coerente, libertando a infância da impotência que está por trás da obediência; e abrindo espaço para a responsabilidade, o senso crítico e a autonomia. E isso é muito diferente de apostar na permissividade.
Respeitar os sentimentos e as opiniões das crianças não significa atender a tudo que pedem, da forma que pedem. Uma educação gentil prevê a apresentação de limites claros, porém respeitosos e que levem em consideração as possibilidades e limitações das crianças em cada fase de seu desenvolvimento.
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