Depois da minha última postagem sobre o desafio de ser bom recebi um e-mail de um amigo bem interessante sobre uma reflexão a respeito da supremacia do homem pelo intelecto. Ele defende que o homem é burro pois da forma como se comporta acabará por destruir o mundo em que vive. Concordo com ele que grande parte da humanidade não tem agido com muita inteligência emocional. Apesar de ser o único animal racional, o homem, muitas vezes, não tem usado a sua inteligência de forma assertiva. A dinâmica hoje vigente tem funcionado em cima das vontades e desejos pessoais. As pessoas não se interessam muito pelo coletivo e o bem comum, mas lutam pelos interesses pessoais. Estamos vivendo num tempo egoísta, em que os DIREITOS individuais imperam.
Constantemente no meu consultório percebo no relato dos pacientes uma grande frustração com os resultados negativos gerados pelas suas próprias ações, e muitos deles apresentam uma inteligência acima da média. Observo inclusive, que os mais inteligentes tem uma tendência a resistir mais ao desafio das distorções. E quanto mais inteligentes mais acreditam nas suas verdades internas e mais difícil demovê-los das ideias negativas sobre si mesmos, o mundo e o futuro, já que essas ideias estão aparentemente mais cristalizadas. Existem pesquisas com crianças que apontam uma correlação entre tristeza e inteligência. Entendo que isso se deva ao fato de pessoas inteligentes serem mais analíticas e por isso analisam muito as evidências negativas geradas, em grande parte, pelo bombardeamento cotidiano de notícias ruins. Por outro lado algumas pesquisas indicam uma necessidade do ser humano de pensar positivamente com relação o futuro para se motivarem. Entendo que existe um forte desejo de ser bem sucedido em todos os campos afetivo, profissional, pessoal, mas que esse mesmo desejo pode ser paralisante quando o sujeito avalia muito os riscos e minimiza a sua capacidade de enfrentamento e a sua possibilidade de ser resgatado e ajudado por outros. Assim sendo as crenças negativas vão sendo reforçadas pelo medo e os pensamentos automáticos negativos acabam surgindo com muito mais frequência e intensidade o que acaba resultando no pessimismo.
O objetivo atual é ter o prazer a todo momento e ganhar com o mínimo de esforço. Os jovens querem tirar boas notas sem precisar estudar, querem ser promovidos sem se esforçar ou fazer hora extra, querem que os pais lhes deem todo o conforto sem precisar fazer nada. Tenho observado os jovens exigindo cada vez mais os seus direitos sem se preocupar em cumprir com os deveres. Esses jovens pensam que deveres são chatos, demorados e difíceis além de não serem fonte de prazer. E pensando assim quem se motivaria a cumprir? Se os limites e obrigações não forem impostos pelos pais de forma equilibrada não há como convencê-los de executar coisas que não tragam prazer. No entanto, essa busca desenfreada ilimitada pelo prazer e a felicidade acaba por gerar exatamente o oposto. Querendo fazer somente o que se gosta ou deseja acaba por gerar um comodismo e uma aversão ao esforço e sem esforço será muito difícil cumprir com as metas, o que acabará por gerar uma ideia de fracasso. Neste caso seria preciso muita sorte e as chances de dar certo seriam equivalentes a probabilidade de ganhar na loteria jogando uma única vez.
Entendo que todo ser humano deseja SER amado, SER valorizado pela capacidade e esforço, SER reconhecido pelos dons e habilidades, SER aceito pelos outros, SER respeitado . Esse desejo não seria um problema se ele permanecesse no campo dos desejos, mas o problema dele é que muitas vezes entendemos que temos o PODER de fazer com que os outros façam o que gostaríamos que eles fizessem porque criamos uma ideia equivocada sobre o que os outros DEVERIAM para que possamos continuar cumprindo com os nossos desejos. As pessoas tem tentado incansavelmente controlar umas as outras no intuito de cumprir com esses desejos como se fossem metas factíveis, o que na realidade não são. Metas dependem da nossa capacidade e esforço e tudo o que depende de um outro pode ser ou não realizado. Dessa forma a única solução seria voltar os nossos pensamentos para nós mesmos, para o que podemos pensar e fazer. Se eu decidir que só vou amar se for amado, poderei passar a vida esperando que alguém surja para me amar como eu gostaria para que eu me disponha a amar. Mas se eu decidir amar, mesmo que o outro não retribua vou me sentir bem por ter tentado e vou me abrir a possibilidade de amar alguém que possa reconhecer o meu valor e me retribuir. Se eu cobrar dos meus pais, chefes, parceiro….. reconhecimento, amor……….. Pode ser que eu nunca receba nada do que espero, mas se eu pensar que o bom é o que eu posso, eu vou me esforçar e é provável que eu atinja os meus objetivos. O nosso poder realmente está na nossa mente, no nosso intelecto, mas se soubermos usá-lo de forma funcional, realista e otimista. Não é preciso brigar, nem cobrar do mundo, mas é preciso pensar e fazer a parte que nos cabe.
Pensar somente no que eu entendo ser um direito, sem avaliar os direitos do outro em questão, não me torna uma pessoa melhor, apenas me confirma como uma pessoa materialista e mesquinha. Cada um tem suas regras internas e o mundo não mudará por causa delas, muito pelo contrário, ninguém pensa igual a ninguém. Muitas vezes fazemos um bem ao outro considerando que ele iria valorizar e nos reconhecer e esse outro não percebe a nossa intenção, porque as suas regras internas são diferentes das nossas. Eu posso ser carinhosa e afetiva com alguém que pode entender isso como uma forma falsa de mostrar amizade e portanto poderia perceber isso como agressão. Do mesmo jeito eu posso esperar de alguém algo que eu faria, mas esse alguém não sabe que é isso que eu preciso e mesmo que soubesse ele pode não ter a mesma maneira de expressar os sentimentos. Eu posso ter como valor cuidar do planeta e fazer a minha parte, fazer economia de água, reciclar o lixo, usar aquecimento solar, coletar a água da chuva, mas outros podem ter como valor o conforto de um banho de 1 hora, a praticidade de não ter que selecionar o lixo, porque cuidar dá trabalho e hoje estamos tão cansados que não podemos ter nenhum trabalho extra. Além do mais as pessoas se justificam pensando se ninguém faz porque eu iria fazer? A ideia do direito está tão deturpada que o direito só serve em meu benefício, mas não serve para o bem comum. Precisamos de mais exemplos positivos de mais exemplos otimistas. Precisamos nos esforçar para oferecer ao mundo o nosso melhor, mesmo que isso não necessariamente resulte numa ação positiva do outro para comigo. Comecemos por nós mesmos a fazer e incentivar as boas ações para quem sabe assim as pessoas comecem a refletir e se sintam motivadas a agir da mesma forma. Quem age desta forma sabe o quanto é recompensador pensar no outro e agir sem que haja algum prejuízo a alguém.
A solução para um novo futuro se encontra na possibilidade do homem resolver usar o seu intelecto a seu favor não se permitindo ser direcionado pelas emoções, vontades e desejos mais emergentes. É preciso aprender a dizer não para as vontades que nos impedem de prosseguir para conseguir os nossos objetivos. É necessário aprender a adiar a recompensa focando no futuro e no nosso esforço pessoal sem se deixar ser seduzido pelas possibilidades momentâneas de prazer. Entender que somos donos da nossa história nos fortalece e nos ajuda a parar de cobrar do mundo que funcione de acordo com as nossas regras. Relativizar é mais uma saída, pois somente assim percebemos que o outro não é o responsável pela solução e muito menos pelos nossos problemas.