Por: Renata Borja. Artigo publicado no Estado de Minas no dia 1 de outubro de 2011- Opinião- Caderno principal página 9.
Diante de tanta intolerância, violência e catástrofes naturais, a ansiedade é um mal que nos torna cada vez mais vulneráveis. Segundo a OMS cerca de 10 milhões de pessoas no Brasil sofrem com o transtorno de ansiedade, doença gerada pelo grau mais evoluído do sentimento. E um alerta: quando não controlada a doença pode gerar outras doenças psicossomáticas.
Os homens têm buscado incansavelmente respostas para as angústias internas, no amor, no dinheiro, no poder ou no sucesso profissional, como uma alternativa de tentar controlar o que é incontrolável. É comum encontrarmos pessoas que possuem crenças a respeito do ato de se preocupar, pensando que isso previne o erro ou a falha. Entretanto esta tentativa de controle, caracterizada como principal sintoma do transtorno de ansiedade, acontece como uma resposta de previsibilidade de eventos a fim de se evitar o sofrimento, contribuindo para a manutenção da ansiedade. Essas crenças chamadas de meta cognição, no entanto, acabam por dificultar o tratamento do paciente, afinal a ansiedade está vinculada à forma como interpretamos os fatos.
Na maioria das vezes a pessoa se torna ansiosa por ter se percebido vulnerável frente a alguns acontecimentos ou traumas ocorridos na infância. Apesar dos acontecimentos não determinarem os sentimentos e comportamentos, algumas situações podem colaborar para a experiência da ansiedade. Pais preocupados e superprotetores, pais que fazem com que os filhos troquem de função com eles, pais omissos, pais que desprezam as emoções ou que se afastaram ou não reconheceram seus filhos podem muitas vezes influenciar o psicológico da criança fazendo com que ela se sinta vulnerável, passando assim, a desenvolver algum tipo de transtorno de ansiedade na fase mais adulta. Em outras situações a experiência da ansiedade pode até mesmo resultar em respostas fisiológicas como sudorese,taquicardia, dificuldade respiratória, tremores, etc.
Por isso, é preciso atenção e acompanhamento psicológico para que a pessoa consiga lidar com a ansiedade. Não podemos deixar de ponderar que estes fatores só resultarão numa ansiedade caso o sujeito tenha se sentido vulnerável frente a essas situações.
Outro fator que colabora para a manutenção e instalação da ansiedade é que, apesar das pessoas terem tido experiências positivas que desconfirmariam as suas hipóteses de perigo, elas ainda assim continuam acreditando que o risco realmente existe. Isso acontece, porque na realidade acreditam que saíram ilesas, pois anteciparam os riscos e tomaram as providências necessárias para que a “catástrofe” prevista não se efetivasse. Essas providências são chamadas de comportamento de busca de segurança.
No modelo cognitivo da emoção proposto por Aaron Beck em 1976, tem como base a ideia de que as emoções são o resultado da forma como processamos uma determinada situação, ou seja, pensamentos desencadeiam sentimentos, que por sua vez, conduzem a uma postura ou ação. O tratamento de uma pessoa ansiosa, portanto, implicaria na identificação das cognições resultantes na experiência de ansiedade, a fim de encontrar interpretações alternativas para cada hipótese de ameaça levando a uma flexibilização dos pensamentos que resulta na queda da ansiedade.
Cada indivíduo é responsável pelos seus atos, mas é importante observar que o se preocupar não é atestado de resolução de problemas, muito pelo contrário, pois a preocupação gera ansiedade pela impossibilidade de fazer uma previsão exata do futuro. Não há nada que se possa fazer para evitar uma eventualidade e o melhor seria não se preocupar.